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Foto do escritorMikaella Paiva

Número de artesãos mais que dobrou em 2022


A busca dos brasileiros por redecorar a casa e dar novos ares para os ambientes mais usados, como a cozinha e sala, fortalece o setor

O artesanato é um dos ofícios mais antigos da humanidade e surgiu da necessidade dos seres humanos de tornar a sua rotina e sobrevivência mais fácil. Primeiro, as pessoas passaram a produzir ferramentas e peças para o uso no dia a dia. Aos poucos, os artefatos foram ganhando formas, relevos e pinturas inusitadas, e o que era ferramenta de trabalho também se tornou peça decorativa. Passaram a expressar os modos de viver das comunidades, seus valores, sonhos, crenças e percepções.


Sylvia Sartorelli: “Hoje, o ‘feito à mão’ tem uma outra conotação: de carinho, cuidado e atenção” Foto: divulgação

Hoje, a produção artesanal não se resume a peças de cerâmicas ou brincos. O mercado conta com velas artesanais, roupas, chaveiros, pingentes etc. As palavras de ordem são personalização, originalidade e identidade cultural. Atualmente, o setor movimenta R$ 50 bilhões por ano no Brasil, tem a participação de cerca de 8,5 milhões de brasileiros (a maioria é mulheres que vivem diretamente da própria produção) e representa 3% do PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com dados do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).


“Além do poder de dar qualidade de vida, o artesanato movimenta a economia, gera emprego e renda para milhares de famílias Brasil afora. Nosso país, com sua diversidade, é um grande celeiro criativo de peças artesanais”, afirma a gestora de Artesanato do Sebrae Nacional, Durcelice Mascêne.


“O mercado de artesãos tem uma importância enorme para a economia brasileira, porque injeta (favorece) diretamente o trabalhador brasileiro, seja ele de qual classe social for”, afirma Leandro Krug Batista, professor da Universidade Positivo e especialista em Varejo. “O mercado de artesãos viabiliza o reconhecimento e a valorização econômica e financeira dos mais diversos tipos de trabalho, e é capaz de mostrar a outros países do mundo, através da exportação de artesanatos, o talento brasileiro”, destaca ainda o docente.


A pesquisa realizada pelo Sebrae no ano de 2013 constatou que em 60% dos entrevistados têm como fonte de renda principal o artesanato e 40% os produtos artesanais não são a principal fonte de renda.


Mercado em expansão


Em 2022, mais que dobrou o número de artesãos no Sicab (Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiros), plataforma com mais de 190 mil profissionais do segmento cadastrados. Em janeiro de 2022, o sistema recebeu 918 cadastros e, em agosto, 2019 novos integrantes. O especialista aponta que a pandemia da covid-19 foi o motivador para o aumento no número de artesãos no país. “As pessoas ficaram mais tempo em casa e se dedicarem a atividades as quais tinham talento e vontade de fazer. Além disso, a própria situação econômica convidou parte da população a buscar alternativas de geração de renda adicional”, diz Batista.


Durcelice Mascêne explica que a expansão desse mercado se deve, em especial, à busca das pessoas por se sentir mais acolhidas em suas casas, comportamento reforçado durante a pandemia. “Nos últimos dois anos, notamos esse movimento de redecorar a casa, dar novos ares para ambientes mais usados, como a cozinha, sala e escritório. O artesanato conversa diretamente com esse comportamento e tem a capacidade de gerar bem-estar, de dar personalidade, de contar histórias”, comenta.

Leandro Batista: “O mercado de artesãos viabiliza o reconhecimento e a valorização econômica e financeira dos mais diversos tipos de trabalho” Foto: divulgação

Para a empresária Sylvia Sartorelli, proprietária da Casa Impelle, o artesanato está bem diversificado e amplo. “Hoje, o ‘feito à mão’ tem uma outra conotação: de carinho, cuidado e atenção. Com a pandemia veio uma (sensação de) finitude, que gerou um olhar para o que realmente importa: as pessoas viverem as coisas com carinho e dedicação”, comenta a empreendedora.


A artista visual Mathê Avellar, de 24 anos, começou a trabalhar com artesanato em 2016, produzindo arte personalizada em murais de parede, cadernos, necessaires e acessórios temáticos inspirados em doramas (novelas coreanas) e K-pop (Korean Pop, que engloba diferentes estilos musicais da Coreia do Sul). Segundo a artista, busca criar produtos originais e diferentes do mercado industrial. “Eu acho que esse é o mais interessante do artesanato: são produtos únicos, porque a gente faz edições limitadas, e isso se torna cada vez mais especial”, fala.


Mathê Avellar: “Todo artesão já ouviu: ‘é muito caro o seu produto!’. Não é caro, na verdade. Às vezes, demoro 30 horas para fazer um produto” Foto: reprodução/Instagram
Mathê Avellar: “Todo artesão já ouviu: ‘é muito caro o seu produto!’. Não é caro, na verdade. Às vezes, demoro 30 horas para fazer um produto” Foto: reprodução/Instagram

Mathê leva a sua lojinha para eventos de anime (animação desenhada à mão ou por computação gráfica do Japão) e de cultura coreana, além de vender pelo Instagram, por onde recebe encomendas. A sua presença no meio virtual é uma de suas principais estratégias de venda. “Como o público de anime é nichado, procurei eventos de animes ou festivais do Japão. Essa galera que curte cultura asiática anda junto, e acabou que encontrei grupos interessados em doramas. Geralmente, eu sou a única nesses eventos que vende produtos de domaras”, explica.


Os entrevistados ouvidos para esta matéria destacaram a importância de os artesões utilizarem as redes sociais como ferramenta de divulgação e venda. Leandro Krug Batista explica que não bosta postar fotos dos produtos, as imagens devem ser profissionais, os vídeos podem mostrar o processo produtivo. Além disso, pode falar sobre os fornecedores, as promoções, as coleções e temas vinculados aos produtos. “O artesão tem esse olhar um pouco mais criativo, artístico, mas não pode esquecer do olhar comercial. Então, tem que conciliar a arte com o comércio”, reforça Sylvia Sartorelli.


A margem de lucro do artesanato é de 10% a 30%. Os preços também são mais altos, uma vez que o profissional gasta mais horas na elaboração dos artigos, material personalizado e volume de produção reduzido. “O público brasileiro tem que começar a valorizar esse trabalho (artesanato). Todo artesão já ouviu: ‘é muito caro o seu produto!’. Não é caro, na verdade. Às vezes, demoro 30 horas para fazer um produto”, conta Mathê.



Com informações da Agência Sebrae de Notícias.

Edição e colaboração: Fernanda Peregrino

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