As doenças crônicas não transmissíveis são um problema de saúde global e uma ameaça à saúde e ao desenvolvimento humano, correspondem a 72% das causas de mortes entre os brasileiros. Doenças como hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes são quadros, muitas vezes silenciosos, que elevam os registros de mortes, especialmente em pessoas da terceira idade. No entanto, como boa parte das doenças crônicas, podem ser controladas e conciliadas com um estilo de vida balanceado.
Para responder de forma mais efetiva ao modelo de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS), foi desenvolvido o Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC) e, de acordo com a pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Josiane Maria Oliveira, um dos seus elementos essenciais é o incentivo ao autocuidado apoiado (AA).
O autocuidado apoiado consiste no empoderamento das pessoas, com oferta de informações e orientações, pata que possam gerenciar, de forma independente, seu estado de saúde e qualidade de vida. “O AA visa à prestação sistemática de serviços educacionais e de intervenções de apoio para aumentar a confiança e as habilidades das pessoas usuárias dos sistemas de atenção à saúde em gerenciar seus problemas de saúde”, diz Josiane Oliveira.
Considerando a realidade dos pacientes com hipertensão e diabetes e a metodologia do MACC, ela contou com recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Distrito Federal (FAPDF) para desenvolver a pesquisa “A efetividade do autocuidado apoiado em usuários com condições crônicas: ensaio comunitário”.
O objetivo do estudo foi analisar e avaliar o efeito do autocuidado apoiado na melhoria de respostas comportamentais e fisiológicas de grupos de hipertensos assistidos na atenção básica da regional de saúde de Ceilândia – DF.
“Realizamos um ensaio comunitário com 100 usuários portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e/ou Diabetes Mellitus (DM), sendo 49 do grupo controle de uma Unidade Básica de Saúde(UBS) que seguiu a abordagem prescritiva/tradicional e 51 do grupo intervenção em outra UBS, que vivenciou o autocuidado apoiado durante seis meses. Os dados foram coletados na linha basal e após seis de seguimento através de exames laboratorias, dados clínicos, sóciodemográficos, entrevista semi-estruturada e instrumentos de avaliação validados (PACIC – Avaliação do Atendimento de Condições Crônicas para usuários; Escala de Autocuidado de Hipertensão versão Brasileira (EAC-HI); e avaliação do Modelo Transteórico de Mudança abordando as temáticas de alimentação e atividade física”, explica a coordenadora do projeto.
Atenção primária multidisciplinar e holística
Ao comparar os resultados dos grupos analisados, a equipe do estudo identificou que a implementação do autocuidado apoiado na atenção primária à saúde proporciona resultados positivos sanitários e na satisfação das pessoas com condições crônicas. O relatório do projeto indica que houve uma melhoria significativa na avaliação realizada por meio da Escala de Autocuidado de Hipertensão versão Brasileira (EAC-HI), na seção escala de manutenção do autocuidado referente à rotina de cuidados com a saúde relativos ao controle da hipertensão.
Além de a percepção dos usuários, os dados enfatizaram uma valorização da aplicabilidade do plano do autocuidado e a busca pela adesão aos principais comportamentos relacionados a alimentação e atividade física, necessários à autogestão do cuidado, entre os portadores da HAS e diabetes mellitus (DM).
De acordo com Josiane, “houve discreta melhora nas repercussões clínicas e metabólicas observadas na tendência de redução da pressão sistólica no grupo que vivenciou o autocuidado apoiado após o sexto mês de seguimento e nas reduções da hemoglobina glicada, colesterol total e triglicerídeo”.
Assim, a pesquisadora afirma que os conceitos e os resultados do estudo comprovaram que o autocuidado de apoio (AA) motiva e desenvolve um maior empoderamento e controle da condição crônica, repercutindo em melhoras clínicas. “Já é fato que o modelo assistencialista/prescritivo apenas não é o suficiente para atender as necessidades desta população, que cada vez mais cresce no país. Neste caso, a equipe acredita que este estudo aponta evidências que vale apena investir na implementação do autocuidado apoiado para qualificação do atendimento das pessoas com HAS ou DM na atenção primária, no contexto do SUS”, conclui Josiane Oliveira.
A pesquisa foi fomentada pela FAPDF “Chamada FAPDF/MS-DECIT/CNPQ/SESDF 01/2016 – Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde”, cujo objetivo foi apoiar a execução de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação que promovam a formação e a melhoria da qualidade da atenção à saúde no Distrito Federal, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).
Confira a apresentação final de resultados da pesquisa aqui.
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