Melhorar o atendimento em Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no Sistema único de Saúde (SUS). Esse foi o objetivo do projeto de pesquisa “Formação do nutricionista para o Sistema Único de Saúde: um olhar sobre a Educação Alimentar e Nutricional”. Coordenado pela pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Elisabetta Recine, o projeto contou com fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Distrito Federal (FAPDF) e resultou na criação de um curso de atualização que poderá ser feito por professores e profissionais de saúde.
A estudiosa decidiu abordar o tema a partir da perspectiva de mudar o paradigma sobre o “cuidado em saúde” com base na compreensão sobre os processos de formação dos profissionais, levando em consideração as demandas da sociedade e a busca por ações de saúde resolutivas.
“No campo da Nutrição, a necessidade de mudanças substanciais na formação profissional aponta a importância de uma formação reflexiva, generalista e crítica para atuar no SUS, sendo fundamental considerar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) como um instrumento potencial de cuidado à saúde, principalmente na atenção básica”, afirma Elisabetta Recine.
O projeto investigou a formação do nutricionista para o SUS com foco na EAN, identificando desafios e potencialidades deste processo, visando ampliar a discussão e a consolidação da EAN no cuidado à saúde.
O levantamento foi desenvolvido com docentes de dez Instituições de Ensino Superior (IES), públicas e privadas, do Distrito Federal que oferecem o curso de Nutrição no DF autorizado pelo Ministério da Educação (MEC). Também participaram nutricionistas da Atenção Primária de Saúde (APS) e da Secretaria de Estado de Educação (SEE) do Distrito Federal, além de nutricionistas atuantes no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A equipe da pesquisa realizou entrevistas individuais com roteiros semiestruturados para entender as perspectivas dos profissionais. A partir das falas coletadas, os resultados sinalizaram a importância da Educação Alimentar e Nutricional para o desenvolvimento de habilidades e competências nos futuros profissionais. Outro fator destacado foi a importância de atividades práticas no processo de ensino-aprendizagem.
Resultados e aplicabilidade
De acordo com a análise da coordenadora do projeto, tanto os nutricionistas que atuam na saúde como os que atuam na educação indicaram que a formação em EAN foi pontual na graduação, realizada em uma única disciplina, quando deveria ser transversal, aplicada durante todo o curso. “A gente não pode colocar tudo dentro de uma só matéria. Deveria ser uma coisa continuada, desde o começo do curso até o final”, declarou uma nutricionista de APS.
A falta de atividades práticas na formação também foi destacada por um profissional da Secretaria de Educação: “lembro que tivemos bastante teoria, mas prática não teve muito e a gente aprende bastante na prática”.
A necessidade de contínuas capacitações frente ao grande número de informações que surgem diariamente sobre a Alimentação e Nutrição também foi um dos desafios apontados pelos docentes. Já na área da saúde, a dificuldade de contestar condutas médicas e lidar com a integralidade do cuidado foram situações pontuadas na atuação profissional. Nutricionistas da educação também se deparam com a resistência de algumas unidades escolares enxergam esses profissionais apenas como fiscalizadores, e não como educadores em saúde.
Por isso, além de mapear os principais desafios, traçar o perfil dos docentes de EAN e identificar as ações realizadas na atenção básica em saúde no DF, Elisabetta Recine desenvolveu um curso de aperfeiçoamento voltado para esses profissionais.
“Tanto a formação como a atuação em EAN exigem permanentes transformações e disposição para enfrentar os desafios. O curso de Atualização em EAN oferecido foi de suma importância para compartilhar vivências, oportunizar trocas entre profissionais de diversos locais, possibilitar a reflexão de experiências práticas e ideias sobre EAN no âmbito do SUS, bem como apresentar novas abordagens e propostas inovadoras”, detalhou a pesquisadora. O curso foi cadastrado como atividade de extensão da Universidade de Brasília (UnB).
Além de oferecer uma metodologia de atualização para os profissionais de saúde e docentes, o trabalho disponibiliza informações que poderão contribuir com a reestruturação curricular dos cursos de graduação no Distrito Federal.